I ECOVALE

16, 17 e 18 de outubro de 2003

SEESP coloca em pauta meio ambiente no Vale do Paraíba

No I Ecovale, que reuniu cerca de 300 participantes nos dias 16, 17 e 18 de outubro, na cidade de Taubaté, foram debatidos temas fundamentais ao bem-estar e desenvolvimento da região. Paralelamente, 21 empresas e instituições expuseram seus produtos e serviços em estandes que foram visitados também por pessoas não-inscritas no evento.

A iniciativa do Sindicato dos Engenheiros contou com diversos patrocinadores e teve sua organização a cargo do vice-presidente da entidade, Carlos Alberto Guimarães Garcez. Considerado um sucesso, o encontro já tem data marcada para sua segunda edição: 15 a 17 de outubro de 2004.

“A idéia de promover essa discussão no Vale do Paraíba surgiu em nossas reuniões regionais. Assim, os nossos dirigentes buscaram a viabilização desse evento, que já entendemos como um sucesso”, afirmou o presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, durante a abertura do Ecovale. Entre outras autoridades, participou da inauguração do encontro a secretária adjunta estadual do Meio Ambiente, Suani Teixeira Coelho. Representando o secretário José Goldemberg, ela salientou que a preocupação do Estado hoje é “conciliar o desenvolvimento com a sustentabilidade”. A estratégia para tanto, disse, é “estreitar a consonância com a sociedade”. O padre Afonso Lobato, deputado estadual pelo PV, lembrou a importância de fiscalização efetiva para fazer cumprir a legislação existente.

Gestão
O primeiro painel foi “Sistemas de gestão para o meio ambiente”, iniciado por Zeila Chittolina Piotto, da Votorantim Celulose e Papel, que falou sobre a ecoeficiência na unidade de Jacareí da VPC. Segundo ela, o conceito, que envolve produzir mais e melhores produtos a custos mais baixos e reduzindo o consumo de recursos naturais e os impactos ao meio ambiente, exige duas mudanças de paradigma. É preciso incorporar a questão financeira às ambientais e valorizar a prevenção da poluição em detrimento da chamada “solução de fim-de-tubo”, que pretende tratar o resíduo gerado. Com esse objetivo, a empresa investiu US$ 160 milhões entre 1992 e 2003, informou.

A seguir, o engenheiro Cesar Augusto Puls, consultor da área, ressaltou a importância da conscientização efetiva da sociedade e das organizações sobre a preservação do meio ambiente. Ele focou sua palestra em dois problemas que considera fundamentais: água e lixo. Sobre esse último, apresentou dados alarmantes: o Brasil produz 241.614t/dia de resíduos, sendo que 76% são depositados a céu aberto.

Os benefícios ambientais do gás natural foram o tema da apresentação de Marcelo Gaspar, da área de Marketing Industrial da Comgás. Embora o combustível tenha ainda a pequena participação de 4,9% na matriz energética brasileira, o engenheiro reiterou sua contribuição para reduzir a poluição, tendo em vista que suas emissões são bastante inferiores às de outros de origem fóssil, como gasolina e diesel.

Escalada como debatedora para o painel, Vera Assis, da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente de São José dos Campos, lembrou a preocupação em relação ao ozônio, gerado pelo uso do gás natural. Ela também abordou a importância da formação dos gestores ambientais das empresas.

Resíduos sólidos
No segundo painel do dia, a compostagem foi o tema apresentado pelo professor Paulo Fortes Neto, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade de Taubaté. Os objetivos básicos são a redução da carga de resíduos que se destinará ao aterro e à produção de fertilizantes agrícolas. No Brasil, conforme ele, apenas 1% do lixo orgânico é compostado, mas há bons exemplos localizados, como o caso de São José dos Campos. No município, que gera 440 toneladas de resíduos por dia, 160 toneladas passam pela compostagem.

Para sua exposição, o engenheiro Jorge Moya Diez, técnico da Cetesb e diretor do SEESP, escolheu um chocante exemplo de atentado ao ambiente: o caso Rhodia, em Cubatão. Em 1966, a Clorogil (que seria adquirida pelo grupo de origem francesa em 1976) iniciou a produção de solventes clorados em Cubatão, gerando 2,6t/dia de resíduos químicos industriais, que “foram dispostos clandestinamente e de forma absolutamente irresponsável”. A irregularidade, informou Moya, prosseguiu até 1979. A investigação do problema começou a ser feita em 1983 pela Cetesb, que identificou dez áreas contaminadas, distribuídas por Cubatão, São Vicente e Itanhaém – no futuro, outras seriam denunciadas pela população. A partir daí, a empresa foi obrigada a adotar medidas para a recuperação e remediação do solo.

Em contraponto ao exemplo de irresponsabilidade, Tânia Mara Tavares Gazi, presidente da Associação de Engenheiros da Cetesb, falou sobre as empresas que estão optando pela produção mais limpa. Ou seja, aquela que visa “gerar menos resíduos, usar menos matérias-primas e insumos e reduzir a toxicidade”. Além do cuidado com o planeta, garante ela, há vantagens econômicas nessa alternativa. Os casos são diversos e variam em ramos de atividades e níveis de investimento. A Método Engenharia passou a fazer projetos de forma a evitar sobras de pisos e azulejos. A Erimpress Etiquetas substituiu o solvente a base de silicone orgânico por uma base de água. Não precisou investir um centavo e como resultado teve 17% de economia com matéria-prima, eliminação das emissões odoríferas e de riscos de armazenamento de mil litros por mês de solventes, além de se ver livre de problemas com a vizinhança e o órgão ambiental e garantir melhoria na qualidade do produto. Para que seja incentivado esse padrão de produção, o diretor executivo da Brasil Ambiente, Sabetai Calderoni, propôs a criação de uma “Lei de Responsabilidade Ambiental”.

Saneamento
A deputada federal pelo PT, Ângela Guadagnim, abriu o segundo dia de trabalhos, discutindo o problema do saneamento básico na região, que resulta na poluição do Rio Paraíba. “Está numa situação calamitosa, com total degradação e destruição da mata ciliar.” Ela lembrou que parte do problema reside na ausência de legislação que determine as diretrizes para o setor. Segundo a parlamentar, uma comissão interministerial fará uma proposta para regulamentar a Constituição sobre o tema. O secretário de Meio Ambiente de Jacareí, David Monteiro Lino, contou a experiência da cidade, que optou por fazer uma “gestão integrada” dos serviços. Com isso, e investimentos de R$ 2,7 milhões, espera passar dos atuais 2% de esgoto tratado para a média nacional de 12% e “melhorar a distribuição de água”.

O reuso da água foi a saída apresentada pelo engenheiro Jorge Pasin Oliveira, da BJP Manutenção e Operação de Utilidades Ltda. “A maioria das aplicações é indireta, como irrigação e recarga de aqüíferos ou na indústria”, informou, lembrando que são raríssimos os casos de reuso direto para consumo humano. Para Maria Judith Marcondes Salgado, analista da Cetesb e membro da diretoria do SEESP em Taubaté, uma ação importante seria a criação da Agência de Gestão da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba, para que houvesse um controle integrado. O engenheiro da Sabesp, Mário Pero Tinoco, ressaltou a urgência em se garantir financiamento para investimentos no setor, que já enfrenta dificuldades para assegurar o abastecimento público.

Recursos hídricos
Ficou reservada ao painel de encerramento a principal polêmica do I Ecovale, acerca da iminência da escassez de água no mundo. O engenheiro Luiz Carlos Kal Machado, afirmou que, juntamente com o aquecimento global, esse é um dos fatores que mais contribuem para o colapso do meio ambiente. Assim, defendeu que sejam implementadas medidas para que se reduza o consumo atual brasileiro de 220 litros de água por dia por pessoa. A tese foi rechaçada pelo diretor de Obras Hídricas do Ministério da Integração Nacional, Paulo Bezerril Júnior, para quem “o mundo não vai acabar por falta de água”. Conforme ele, a visão “catastrofista” cai por terra ao se pensar nas possibilidades de uso das águas subterrâneas.

Marcelo Targa, chefe do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade de Taubaté, abordou os conflitos do uso da água no Vale do Paraíba, especificamente no caso da agricultura irrigada. Ele contradisse a tese segundo a qual a atividade seria a grande vilã consumidora, enfatizando ser na propriedade rural que ocorre a infiltração de água nas bacias hidrográficas. Portanto, afirmou que “o agricultor, irrigante ou não, que pratica conservação do solo, tem que ser diferenciado no processo de cobrança de uso”.

O engenheiro Antonio Octaviano, da Duke Energy, apresentou as ações da empresa, proprietária de oito usinas hidrelétricas, para a conservação dos recursos hídricos sob seu gerenciamento. Assim, os planos de Gestão Sociopatrimonial e de Uso e Ocupação de seus reservatórios orientam eventuais cessões desses recursos para desenvolvimento de atividades por terceiros.

Fonte: Jornal do Engenheiro, publicação do SEESP – Edição JE 222 – 1º a 15 de novembro de 2003
https://www.seesp.org.br/imprensa/je222capa.htm